Crônicas dos anos
rebeldes
Fomos
criados num mundo onde as pessoas pregavam perfeição, disciplina e bons
exemplos.Mas, só pregavam!
Chegar em
casa, borbulhando de felicidade e dizer “tirei dez em Física!” era puxar
briga.A única resposta azeda era “não faz mais que tua obrigação!”.
Ter algum
problema e ficar sensível, era abrir a porta para o capeta: “engole o choro!”, “já
tenho problemas reais, guarda os teus imaginários!”
Por tudo
isso, além do Vandré, Chico Buarque começou a fazer parte de nossa trilha
sonora.Por exemplo: “deixa em paz meu coração, que é um pote até aqui de mágoa,
e qualquer desatenção (faça não!) pode ser a gota dágua!”
No
entender da geração de nossos pais, tínhamos tudo.Mas, para nós, faltava outro
tanto.
Não
queríamos um futuro igual para nós e nossos filhos.De mulheres que casavam
cheias de amor e ao longo da vida tinham que se contentar com um amor que
desandou.De jovens amordaçados, de pais e sociedade prepotentes.De ter que
aturar que as nulidades dessem as cartas e mandassem, sem mérito ou
valor.Não!Foi o fim!
Saímos
como um bando de Quixotes, combatendo moinhos-de-vento.Mas, a sanidade nos
alcançou e percebemos que teríamos que demolir esse sistema construído em solo “borrachudo”.E
então, construir algo sólido.Fomos minando os alicerces, derrubando os muros,
construindo pontes e baluartes.Então, o mundo que
tentou nos domar como a um leão de circo, errou pela última vez.
Fizemos as
trouxas e fomos construir um futuro nosso.Muitas vezes, distante de tudo mas,
por isso mesmo, mais feliz.
Hoje, mal
podemos crer que o panorama é outro.A autoridade não é auto-ungida e só é dada
a quem fez por merecer.E não foi “a lasso”.
Podemos ir
e vir em paz.Talvez encontremos alguns ladrões mas, arbitrários, jamais.
O
preconceito foi amordaçado pois, era um subversivo “incômodo” e perigoso.Os
usos e costumes mudaram desde a época dos hippies.Não mais pompa vazia e
circunstância hipócrita.Apenas, uma realidade mais leve e responsável, onde
cada um colhe o que planta, ao invés de roubar no quintal do vizinho.
Hoje, podemos festejar
nossas vitórias, sorrir de satisfação; e não precisamos esconder nossa educação
como se fosse um crime.Poucos irão se atrever a dizer que estamos melindrando “os
outros”.Melindrando porque?Porque o único mérito dos “outros” era impor a lei “a
pau”.
Lamento,
queridos!Nunca deixo para amanhã o festejo de hoje.A vida é muito curta para
ficarmos posando de modestos.A vida precisou ser vencida e subjugada para
podermos fruir a convivência.Para vocês, pão e circo, Carnaval e cinzas.Para
nós, é sempre Páscoa!
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