Os pilares da sobrevivência
Lembro-me
de quando era criança.As pessoas nos impunham que fossemos bem educados e
respeitosos.E nós eramos.
Então, na
minha adolescência, caiu a ficha: as mesmas pessoas que cobravam educação e
respeito, não eram educadas e muito menos respeitosas com ninguém.Em suma, era
uma exigência vazia.Eles não davam o exemplo.
Aprendíamos na
escola, as atitudes e as palavras mágicas que abriam as portas que eram “com
licença”, “obrigado”, “por favor” e “não por isso”.Eramos pequenos lords e
ladies, educados, repeitosos e que ficavam chocados com as atitudes dos pais.Ao
invés de “com licença”, ouviamos um tosco “sai da frente”;ao invés de
“obrigado”, ouviamos “não faz mais que tua obrigação”, ao invés de “por favor”
ouvíamos “faz já”.Grande parte dos meus colegas, quando completavam sua
formação, não voltavam para sua cidade.Os que voltavam, deixavam o pacote de
boas maneiras na Faculdade e copiavam seus pais trogloditas.
O que
dizer então, de respeito?Não havia!As pessoas davam palpites na vida alheia sem
ser solicitadas, xingavam as pessoas com um palavras chulas, chantageavam,
invadiam e usurpavam sem a menor sem cerimonia.
Discutir
uma pendência de terra era na base do tiroteio, com um bando de capangas e uma
horda de advogadinhos de porta de cadeia (que defendiam a invasão de
propriedade com as desculpas “porque o invasor é meu amigo e o invadido é um
coitado”).Então, ter feito um curso de Direito não significava fazer cumprir a
lei de direito e sim a dos mais fortes.Nada diferente da natureza selvagem do
mundo animal.
A vida se
encarrega de nos mostrar as verdades e corrigir nossos pontos de vista.Ainda
bem, por que eu andava achando que a educação era para uso na infância e
adolescência, quando dependemos de quem tem o poder decisório=poder econômico.Foi
quando conheci uma pessoa surpreendente, que vou chamar de “Z”.Diziam as
más-línguas que ele era um matador.Embora filho de família abastada, ele atuava
no mundo do definitivo, matar.Muitas vezes cheguei a duvidar do que ouvia, mas
ele mesmo confirmou sua fama.Era um homem refinado, gentil e educado.Tinha
ótima aparência e esmêro no vestir, diferente da imagem do bandido comum.Um
dia, educadamente perguntei-lhe o por quê de sua escolha e ele respondeu:
-É que
descobrí que ser educado, nada tem a ver com meras palavras.Educadamente, as
pessoas podem até me roubar e matar, desde que a sua atitude seja de convicção
e respeito.Mas, se pisarem na bola, e não souberem explicar a que vieram, não
tem como relevar...
Comecei a
nutrir profundo respeito por quem separava as fases das reações humanas.Uma
fase é uma fase.A fase seguinte é outra.Claro e cristalino como água da
fonte.Coisa que jamais encontrei em nossos confusos pais, que capengavam entre
o direito e o dever sem se decidir jamais.
A
desculpa de nossos pais para serem mal-educados era “sou adulto e respondo por
meus atos”, coisa que nem sempre era verdade.Fazer desafôro era uma
coisa.Responder por eles, era outra.No máximo, acontecia de se constranger o
perdedor a aceitar uma situação humilhante, nada mais.Era assim que eles
lidavam com a vida: pregavam moral e respeito que desconheciam.Se alguém
questionasse, era considerado “um desafôro duvidar da minha palavra”, como se
palavras, sem o lastro do exemplo fossem capazes de educar.Os filhos não tinham
respeito por seus pais, tinham medo.Com o tempo, aprendiam que o meio tinha
sido um fator nocivo , contraditório e desagregador para com seus velhos.Era
uma compreensão tardia de uma forma de vida esconsa e instável.Por mais
estrutura econômica que se tivesse, a paz era artigo de luxo, pois o
desrespeito, a má-fé e outras reses desse nefando gado não lhes permitiam
coerência ou baixar a guarda.
Hoje,
nossas pendências são resolvidas nos tribunais, com advogados que sabem a
diferença entre o “direito” e a “amizade” e que, principalmente, sabem que
podem ter sua licença caçada pela OAB por conduta anti-ética(antes, eles nem
sabiam o que era “ética”).Aí alguém me pergunta “e se o posseiro resolver não
cumprir a reintegração de posse?”.Simples: decisões definitivas não são
passíveis de discussão.É feita a execução de sentença com ordem judicial e
apoio da polícia.Tudo publicado nos jornais, nos Diários Oficiais de formas que
o desrespeito será divulgado na mídia e exporá as atitudes dos posseiros –
ricos ou não.
Os grileiros
de terra e assassinos dos donos legítimos, por ricos que sejam, são levados ao
tribunal e cumprem pena. Pela simples razão de que esse país cansou de ser o
ninho de cobras que sempre foi e resolveu liberar as águias para caçá-las.
Como diria “Z”, com
educação e respeito, tudo se admite.Com arrogância e prepotência, não!!!
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