Mudança compulsória.

                        Mudança compulsória

                                    Quando eu era criança, presenciei atitudes estúpidas, que eram tidas como normais.Hoje, essas atitudes seriam classificadas como uma deformidade moral, um incentivo ao desrespeito e a má-conduta.

                                    Os pais, ignorantes, achavam lindo ter um filho garanhão e “comedor”.Se isso sucedesse entre maiores de idade, seria jurídicamente viável, embora imoral.Mas, geralmente, o garanhão daquela época traçava menores (de qualquer sexo), empregadinhas de sua casa ou menininhas pobres da periferia.Segundo as pessoas ignorantes “era um mal necessário”.Quando surgia uma gravidez, o pai ignorante saia na defesa de seu ogro filho:

                                    -Engravidou porque quis!Quis dar o golpe da barriga e casar bem!

                                    E a “Justiça” e sociedade se alinhavam a favor do “comedor” pois, ele era homem e as gurias é que eram umas vadias.Conseqüentemente, o garanhão tinha uma penca de filhos indesejados, aos quais negava assistência e renegava sua paternidade:

                                    -Tenho certeza de que o filho não é meu!Ela dava pra todo mundo.Pode perguntar pro Fulano se já traçou ela!

                                    E a vida seguia adiante, com a covardia da sociedade aceitando um predador em seu meio, que disseminava filhos indesejados e DST.Me pergunto porque não usavam camisinha, se não queriam ter filhos indesejados.As desculpas, sem nexo e abusivas era:

                                    -É como chupar bala com papel!Ela que se cuide!

                                    O pai ignorante gabava a macheza de seu filho.Um macho sem  diferença alguma de um vira-latas, que emprenha e larga as crias por aí.

                                    Certa vez, um meu colega de faculdade, gay, foi estudar na minha casa.Um vizinho logo criticou:

                                    -Não achou um homem de verdade?Não tinha coisa melhor pra andar catando viados por aí?

                                    Eu que nunca levei desaforo pra casa, principalmente depois de adulta, lasquei:

                                    -Olha, achei uns bagaceiras desclassificados como teu filho.Mas, como teria que surrá-los por serem sem respeito, preferi uma amizade menos perigosa.

                                    -Que que há, tu não gosta de homem?

                                    -De quem tu estás falando?Homem tem respeito e sensibilidade.Homem, trabalha para se sustentar.Teu filho vive as tuas custas, mesmo cursando faculdade.Tu não achas que vou dar bola pra um irresponsável e dependente do pai, achas?Como se eu não soubesse que essa dependência tem o único objetivo de mante-lo obediente e submisso!

                                    -Olha, vou falar com tua mãe!Tu estás te tornando uma pessoa de moral duvidosa, andando com pervertidos!

                                    -Á vontade!Só que sou maior e ninguém manda em mim.Principalmente porque trabalho e sou responsável.Foi-se o tempo em que futrica no ouvido de minha mãe iria me intimidar...você é que está deslocado no tempo e no espaço.Ou você muda ou ficará isolado!

                                   O tempo passou e hoje, tudo é diferente.Parece que eu não estava tão errada assim.A maioria das mulheres trabalha, os garanhões são censurados e os gays, quando resolvem ter filhos, são os melhores pais do mundo.Muitas vezes me pergunto se eu tivesse que escolher entre um garanhão cafajeste e um gay, quem eu escolheria.Tudo indica que eu escolheria a sensibilidade e rejeitaria a luxúria.Tenho que admitir que minha intuição sempre esteve certa e a confirmação foi só questão de tempo.

                                   Garanhões ultrapassados:vão achar algo útil pra fazer!Tua figura nojenta e desprezível é completamente dispensável no cenário atual.Vira gente!Vai trabalhar, vai estudar e para de semear DST e filhos bastardos.Aliás, bastardo, mesmo, é você, que só teve pai...