Somos meros "lulus"; final de ciclo;calendário maia;freqüencias;tsunami novamente;ficção ou realida

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Agentes...vacinas...


Agentes...vacinas...


Ela estava, pela milionésima vez, tentando descobrir o propósito de sua vida. Uma vida cheia de paradoxos, de injustiças e frustração.
Se tivesse o vício de fumar, acenderia um cigarro e olharia as espirais de fumaça subindo e se desfazendo para compará-las a seus sonhos: todos dissipados.
Com uma inteligência brilhante e invejável, com uma educação incomum, ela não entendia como isso pudesse ser secundário ante sua origem humilde. Seu pai, um homem brilhante, mas inseguro, não suportou a pressão contra seu casamento com uma dançarina pobre dos clubes noturnos do sul. Ele foi embora, e esqueceu o antigo endereço. Não obstante, ela conseguiu estudar e se formar. Mas, não podia esquecer sua infância pobre e triste, a discriminação e a ironia dos colegas.
Isso, poderia justificar o seu insucesso, mas ela pressentia que havia algo mais por trás disso tudo. Principalmente, quando começou a ter sonhos estranhos, onde o personagem vivido por ela não era ela. E os lugares eram desconhecidos e falava-se outro idioma. Até que um dia, ela reconheceu um dos lugares na televisão:o lugar existia mesmo. E as pessoas, existiriam também? E os sonhos continuavam a acontecer.
Certa manhã, depois de um "pesadelo", ela viu uma manchete
que era idêntica a seu sonho:começou a pesquisar nos jornais, e a cada sonho ou pesadelo, uma manchete com seu personagem. Ela entendeu tudo: ela penetrava na mente das pessoas. Mas, porque, se ela não lucraria nada com isso?Então, alguém lucrava, e a estava usando como agente! Então, a frustração, a pobreza, os insultos tinham a finalidade de a irritar ao ponto de desejar sumir ou ser outra pessoa. Ela, levantou, no meio da madrugada, procurando um clube onde pudesse resgatar a alegria de se divertir, que lhe fora negada. Sentia-se como um rotweiller, surrado e judiado para se tornar agressivo. E decidiu que nunca mais sonharia e desmaiou.
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Acordou no corpo de outra pessoa, também cheio de ódio. Era um cientista do Exército. Alguém que viu seus amigos morrerem um a um. Alguém que se
sentia culpado por criar armas biológicas.
Lembrava de sua última missão, numa selva do Cambodja, quando fora inocentemente encarregado de vacinar os soldados contra as febres tropicais. Achou estranho tal preocupação com quem poderia morrer a qualquer momento, mas, ele jamais discutiu ordens superiores. Ele era um patriota, confiava em seu país e morreria por ele. Só que nunca imaginou que seria o portador da morte.
Com um plano na mente, decidiu se vingar. Pediu uma consulta e disse ser portador de uma doença infecciosa. Os médicos o colocaram num isolamento enquanto decidiam qual seria seu tratamento. Ele decidiu agir. No caminho, encontrou alguns meninos jogando bola no corredor e lhes perguntou "onde é o banheiro feminino?" e os moleques informaram e riram dele dizendo "o coitado está tão doente que nem sabe mais se é homem". Isso só reforçou sua decisão e ele entrou no almoxarifado, trocando as caixas de vacinas comuns pelo vírus letal.
Suas lembranças eram recorrentes. Cada amigo seu que voltava como veterano, era discriminado e deixado ao "Deus dará", até adoecer. Quando doentes, eram levados para um hospital de isolamento de doentes terminais. E ninguém mais os tornava a ver com vida. Seus restos eram entregues em um caixão de chumbo lacrado. Suas mortes eram tão tristes quanto o tinham sido suas vidas.

De repente, começou uma epidemia: mulheres, idosos e crianças começaram a morrer de uma doença desconhecida. Febre alta, delírios, após o que
sua pele se tornava cinza-esverdeado. As seqüelas eram falta de sincronismo nos membros inferiores, perdiam a capacidade de se expressar, se tornando verdadeiros mortos-vivos, até
seu estágio final, a morte. As autoridades ficaram desconcertadas, começaram a aprisionar os doentes e sumir com eles. Quando seus restos eram reclamados, vinham no famoso caixão de chumbo, lacrado.
Veladamente, começou uma caça ao "homem desconhecido" que trocara as vacinas. Só que esse homem não era desconhecido, o seu trabalho é que era.
E, por artes do FBI, ele foi pego. Tranqüilo, ele nem se preocupou: sabia que seu silêncio valia ouro e que muita gente cairia por suas palavras.
Quando começaram a interroga-lo, mandou que fosse pedida uma necrópsia dos veteranos e dos mortos pela epidemia. O Governo, é claro, negou autorização. A oposição, pressionada pelo povo exigiu as exumações e necrópsias. A cada caixão aberto, uma surpresa: o corpo não estava lá. Os caixões foram minuciosamente examinados e tudo o que se achou foi alta dose de radiação UVA e UVB, dentro e fora deles.
Cansados de tropeçar em pistas desconexas, resolveram pressionar o prisioneiro. Ele, simplesmente, entregou-lhes um dossiê e os projetos de armas biológicas em que havia participado. Foi um escândalo que precisou ser abafado, pois o Exército inoculara vírus ativos nos soldados na 1ª dose da vacina e vírus atenuados na 2ª dose. Com isso, eles desenvolveram defesas contra a doença, se tornando vetores da mesma. As prostitutas que tiveram contato com eles, foram infectadas e disseminaram a doença em suas comunidades-que foram dizimadas pela doença. Ao voltar, foi-lhes negado trabalho e assistência para torna-los indesejáveis e poder afasta-los de suas comunidades. A mágoa e a frustração, baixaram suas defesas, permitindo que a doença se tornasse ativa. Recolhe-los num sanatório isolado não foi um benefício para o doente, mas para o Governo que desejava evitar contaminações e deixar vazar qualquer notícia. Até mesmo os agentes da lei, acostumados a pensar e manter o sangue-frio, ficaram enojados com tamanha falta de ética: usar seus próprios cidadãos como cobaia. Quando o escândalo veio à tona, descobriu-se isso tudo e muito mais.
A jovem brilhante de origem humilde, criminosamente acusada de várias indecências, transformada em agente sem o seu consentimento - com a invasão de seus sonhos e a conseqüente invasão de mentes alheias - numa pesquisa perversa para achar outros infelizes para recrutar, foi um exemplo deplorável de falta de princípios.
O cientista, encarregado de vacinar os soldados, que lhes inoculou um vírus letal. Muitos alegavam que ele trabalhava na guerra biológica. Mas, quando foi enviado ao Cambodja, foi na qualidade de embaixador da boa-vontade do Governo, preocupado com a saúde de suas tropas. Assim, ao menos parecia, até que ele descobriu o que sucedia com os veteranos.
É difícil entender que se precise matar um inimigo. Mais difícil é entender que se mate um cidadão inocente. Mas, foi o que ele mesmo acabou fazendo quando trocou as vacinas no almoxarifado, ciente de que uma denúncia, escrita ou oral de nada adiantaria, mas que uma epidemia, levaria a uma investigação e à descoberta da verdade. Ele lembrou da Escola Dominical onde sempre ouvia "a verdade vos libertará".
Ele estava livre da mentira, mas não das conseqüências da verdade. E, assim raciocinando, lembrou que hoje era um homem marcado. E pensou "será que já não nasci marcado?"Até
onde poderia se confiar se já não era geneticamente alterado? De agora em diante, seria difícil acreditar na decência humana...

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